Ex-braço direito do pastor Marcos Pereira por 15 anos, Rogério Menezes é,
hoje, uma das principais testemunhas da série de inquéritos em que o religioso é
investigado na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) por lavagem de dinheiro e
associação ao tráfico. Há cinco anos, ele rompeu com Marcos, preso pelo estupro
de duas fiéis, depois de sua mulher contar que era abusada pelo pastor. Hoje,
ele acusa o pastor de encenar e divulgar para a mídia a "salvação" de crianças
viciadas em crack.
— No início dos anos 2000, uma emissora de TV pediu para acompanhar o pastor
em uma pregação dentro de uma cracolândia. Ele disse que produziria o vídeo e
mandaria para a TV. Então, chegou até mim e disse: "Para convencer as crianças,
pega dinheiro da igreja e pede para elas comprarem crack. Diz para elas que no
final você vai dar mais dinheiro". Eu me recusei, mas outras pessoas da igreja
fizeram — contou Rogério ao EXTRA.
A história não foi a única forjada pelo pastor. Segundo Menezes, que era
responsável por arrebanhar novos fiéis para a Assembleia de Deus dos Últimos
Dias em favelas e presídios e já prestou depoimento à Dcod, quando algum
ameaçado de morte pelo tráfico buscava a igreja sem marcas de agressão, Marcos
reclamava:
— Eu subia o morro para buscar as pessoas e levar para a igreja. Quando elas
chegavam bem, ele pedia para que eu falasse para os traficantes maltratarem,
darem tiro no pé, só para ele mostrar o antes e depois no culto.
Ontem, mais um ex-fiel da igreja de Marcos prestou depoimento contra ele, na
Dcod. Segundo o homem, o pastor lhe deu um soco e o jogou de uma escada após
saber que ele queria namorar uma mulher da igreja. O homem acredita que Marcos
teve um "caso" com ela. Segundo Rogério, pastor Marcos é o responsável por quatro tentativas
de homicídio contra ele Foto: Divulgação
Confira, na íntegra, a entrevista com o pastor Rogério Menezes, que trabalha
no AfroReggae e ministra cultos na Assembleia de Deus da Lapa. Por que você rompeu com o pastor Marcos?
No dia 30 de dezembro de 2008, minha mulher me contou que era abusada por ele
desde que entrou para a igreja. Nós éramos casados desde 1998, e ela disse que
ele continuou os abusos durante o casamento. Ele ameaçava ela e dizia que, se me
contasse, iria difamá-la. Depois que soube disso, não voltei para a igreja. Ele
até me ofereceu dinheiro pelo meu silêncio, dizia que não queria que eu largasse
ele, mas não aceitei. Na última vez que o vi, ele apenas confirmou tudo aquilo
que minha esposa havia me falado na frente dela. Dentro da igreja, você concordava com o que ele fazia?
Não concordava com tudo, mas acreditava que ele era um homem de Deus e
relevava. Uma coisa que sempre achei errada é o fato de ele pegar dinheiro do
tráfico para fazer cultos nas favelas. Paralelamente, ele vendia a favela para
parlamentares. Em épocas de eleição, ele cobrava para ir com candidatos nessas
mesmas comunidades. Outra farsa do pastor eram as rebeliões em presídios. Em
Benfica, por exemplo, foram os presidiários que ligaram para ele pedindo ajuda.
Ele disse: "Só vou quando autoridades e a mídia pedirem", o que acabou
acontecendo. Ele só queria sair por cima sempre. Depois dessas denúncias, você se sente ameaçado?
Corro risco de vida. Pessoas ligadas a ele na igreja vão às favelas para
dizer que eu sou "X9" só porque trabalho no AfroReggae. Nos últimos cinco anos,
sofri quatro tentativas de homicídio em visitas a comunidades. Nessas ocasiões,
os próprios bandidos apontaram arma para minha cabeça e disseram que foi o
pastor Marcos que havia mandado me matar.
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