quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vonpar tenta recuperar imagem após caso de fraude no leite no RS

 

O recall de 990 mil litros de leite UHT da marca Mu-Mu, anunciado nesta semana pela Vonpar Alimentos, foi o primeiro movimento público da empresa para tentar se recuperar do que o diretor-presidente Cláudio Fontes de Faria chamou de "dano brutal" provocado pelo uso de matéria-prima adulterada com água, ureia e formol, recebida de transportadores terceirizados. "Vamos insistir na transparência para recuperar a credibilidade", disse o executivo. A chamada inclui 18 lotes vendidos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Um deles, de 98,7 mil litros, foi produzido em janeiro e já havia sido retirado do mercado em fevereiro por ordem do Ministério da Agricultura, responsável, junto com o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul, pela investigação das irregularidades cometidas pelas transportadoras para aumentar o volume da matéria-prima entregue às indústrias. Os demais foram beneficiados em fevereiro. No dia 8 deste mês, as duas instituições e a Brigada Militar deflagraram a operação "Leite Compen$ado" e cumpriram os primeiros mandados de prisão e busca e apreensão contra os envolvidos na fraude em vários municípios. Segundo Faria, nas duas semanas seguintes à operação, a Vonpar não vendeu "um litro de leite sequer". Depois disso os pedidos começaram a voltar, mas a comercialização ainda equivale à metade dos níveis anteriores e não há estimativa de prazo para normalização. A redução corresponde a algo entre 3 milhões e 3,5 milhões de litros de leite UHT vendidos a menos por mês pela empresa, que tem indústria de laticínios em Viamão, município vizinho a Porto Alegre. "Clientes importantes decidiram tirar nosso produto das prateleiras", afirma Faria. O segmento de lácteos representa 50% do faturamento da Vonpar Alimentos, que somou R$ 300 milhões brutos em 2012, e a crise gerada pela matéria-prima adulterada pode impedir que a receita alcance os R$ 330 milhões projetados para este ano. A empresa também corre o risco de receber uma multa por dano moral coletivo como parte de um termo de ajustamento de conduta (TAC) que o MP vai propor às indústrias que tiveram produto final contaminado pelo formol (além da Vonpar, a relação inclui a LBR, a Latvida e a Italac). O Ministério Público avalia se as empresas foram negligentes no controle da matéria-prima e ameaça, caso não haja acordo em torno do TAC, mover uma ação civil pública contra elas. Faria argumenta que a indústria "séria" está "pagando o pato" pelas irregularidades ao longo da cadeia de fornecimento da matéria-prima. "Ninguém está imune e também fomos vítimas", afirma. Segundo ele, desde novembro, após tomar conhecimento de rumores sobre a adulteração do leite cru, a empresa passou a fazer "testes rápidos" (que levam cerca de dez minutos) para detecção de formol, iguais aos que passaram a ser exigidos pelo Ministério da Agricultura em fevereiro, depois que apareceram os primeiros problemas de contaminação nas indústrias. O "teste rápido" detectou irregularidades em quatro cargas de leite cru recebidas em novembro e dezembro, que foram denunciados ao Ministério da Agricultura e ao MP em fevereiro, mas não conseguiu impedir o uso de matéria-prima adulterada nos lotes produzidos em janeiro e fevereiro. O problema só foi identificado pela empresa, segundo Faria, depois que ela adquiriu equipamentos mais precisos em março e passou a fazer exames mais completos (de até uma hora e 40 minutos) em 100% das cargas de leite cru recebidas dos fornecedores e também nas amostras remanescentes de lotes já entregues ao mercado. O novo sistema faz parte do plano de melhorias nos controles apresentado pela Vonpar ao Ministério da Agricultura e ao MP. Segundo Faria, a presença do formol foi identificada na quarta-feira da semana passada e comunicada ao Ministério da Agricultura, que enviou uma nota técnica sobre o assunto para a empresa dois dias depois. Por isso, explica, a decisão de fazer o recall foi tomada na segunda-feira desta semana, quando equipes da Vonpar passaram a visitar os pontos de venda para recolher os lotes comprometidos. Na terça, um anúncio sobre o assunto foi publicado em jornais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.


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