segunda-feira, 24 de junho de 2013

Bebês atrás das grades: Médico palestino vira herói ao ajudar mulheres de presos a terem filhos


O médico Salem Abu Khaizaran em sua clínica
O médico Salem Abu Khaizaran em sua clínica Foto: Quique Kierszenbaum/The Independent
WASHINGTON - Lydia e seu marido eram amigos de infância quando se conheceram. Em agosto, os dois vão ter o seu segundo bebê, que, de acordo com médicos, será um menino. O casal já planeja chamar a criança de Majd. A história aparentemente normal poderia ser repetida em qualquer lugar do mundo, não fosse o fato de que o companheiro de Lydia está há 12 anos na prisão israelense, cumprindo uma pena de 25 anos. Ele e os demais presos palestinos considerados terroristas não têm direito a visita íntima.
Lydia - cujo primeiro filho nasceu antes que seu marido fosse preso por ser membro da Brigada dos Mártires de al-Aqsa durante a segunda Intifada - faz parte de um número crescente de mulheres que contrabandeiam amostras de esperma de seus maridos presos e os levam para a clínica do Dr. Salem Abu Khaizaran, em Nablus, na região da Cisjordânia. Khaizaran é um especialista em fertilidade que está rapidamente se tornando um herói nacional na Palestina, especialmente entre as mulheres dos territórios.
- As mulheres aqui são leais e querem se destacar para seus maridos. Mas no momento em que eles saírem da prisão, muitas destas mulheres vão estar velhas para terem filhos. Quando o homem finalmente sair da prisão, ele vai ser muito pressionado para ter filhos, ou seja, vai ter que casar com uma mulher mais jovem, e, claro, deixar sua esposa leal - justificou Dr. Khaizaran.
A libertação de presos palestinos detidos em prisões israelenses é uma das principais causas palestinas e alvo de discussão de muitos políticos, como o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Ele sugere que um acordo neste sentido pode ser uma pré-condição para as negociações de paz com Israel.
O médico diz que não levanta nenhuma bandeira partidária, apesar de possuir na parede de sua clínica retratos com o próprio Abbas, e seu antecessor, Yasser Arafat. Mesmo assim, ele insiste que sua iniciativa é voltada exclusivamente para o bem-estar das mulheres.
O especialista em fertilidade não gosta é de entrar em detalhes sobre como as mulheres contrabandeiam as amostras de espermas dos maridos.
- Elas têm sua própria maneira. Eu sou apenas médico, não estou envolvido em como elas conseguem essas amostras. Eu prefiro nem saber. As autoridades israelenses já me pediram esclarecimentos, mas ignorei - afirmou o médico.
Apesar disso, Khaizaran é um defensor de que todos os procedimentos sejam devidamente cumpridos, já que a sociedade palestina é sabidamente conservadora. Por isso, as mulheres são obrigadas a irem a sua clínica com, pelo menos, dois parentes de primeiro grau, tanto da mulher quanto da família do marido para atestar que a amostra apresentada é efetivamente do marido preso, e não de outro homem.
Ele acredita que hoje existam 67 amostras congeladas em seu consultório. E enquanto cobra até US$ 2 mil para casais que estão lutando para engravidar, o médico oferece o tratamento gratuito para esposas de prisioneiros.
Para Lydia o que realmente a preocupa neste momento é o seu novo bebê.
- Eu fui até ele (Khaizaran) com seis testemunhas - três da minha família e três das dele. Cada um dos prisioneiros e suas esposas têm concebido sua própria ideia de como contrabandear as amostras, mas eu não quero entrar em detalhes de como fizemos. Nós fizemos isso duas vezes. A primeira amostra não funcionou, mas duas semanas depois, contrabandeamos outra. Agora estou grávida - contou Lydia.
O risco que os casais correm agora é que com a divulgação da informação possa levar algum tipo de consequência para os prisioneiros. Grávida de seis meses, Lydia, desde então, não visitou o marido. Ela tem medo de que os guardas promovam algum tipo de punição quando a virem grávida.
Lydia virou celebridade onde mora e seu marido herói. A história do casal que se conheceu na escola, não foi um casamento arranjado como a maioria das uniões da comunidade local, transformou-se em um símbolo para a causa palestina.
- Apesar da prisão, continuamos nossas vidas - disse ela.

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