quinta-feira, 13 de junho de 2013

Do Manguezal para Mestrado: Mulher de 47 anos viaja três horas de casa até a universidade todos dias.

   Ex-catadora de caranguejo passa para mestrado da Uenf, em Campos (2) (Foto: Reprodução/InterTv RJ)

Marina Silva abriu mão de cargo público para começar o mestrado.
Marina cata caranguejos desde os 7 anos de idade
(Foto: Reprodução/InterTv RJ)
Da dura rotina de catadora de caranguejo na pequena cidade de São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense, para a vaga de mestranda em uma universidade pública do estado do Rio de Janeiro. Essa foi a mudança de Marina Barreto Silva, a catadora de caranguejo que começou a trabalhar aos 7 anos, interrompeu os estudos, voltou às salas de aula aos 36 anos, fez faculdade à distância e hoje, aos 47 anos, foi aprovada no curso de mestrado na  Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
O caminho até a aprovação foi uma tarefa árdua. O trabalho no manguezal começou aos sete anos para ajudar a família. “Eu acordava, ia para a escola e depois ia pro manguezal na parte da tarde. Trabalhava com a pesca no rio, limpava peixe, camarão”, disse Marina.
Uma pessoa foi conduzida para o DPJ, no Espírito Santo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)Marina sustentou os estudos com a poupança dos anos de trabalho
A dupla rotina teve fim aos 14 anos, após terminar o ensino fundamental. Na época, na pequena cidade de São Francisco de Itabapoana, onde Marina mora, só existiam escolas até a 8ª série do ensino fundamental (atual 9º ano). Com poucas condições financeiras, a opção foi encerrar os estudos.
Mas a vida da então catadora de caranguejo ainda teria surpresas. Quando Marina tinha 36 anos, uma de suas filhas entrou para a escola e teve dificuldades de adaptação. Na época, a unidade já oferecia ensino médio e a solução encontrada por Marina para ajudar a filha foi se matricular na mesma instituição de ensino e também frequentar as aulas.
“Estudei com ela e depois que terminei o ensino médio fiz o pré-vestibular na minha cidade mesmo e passei no vestibular para licenciatura em Ciências Biológicas, que cursei à distância através do Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (Cederj). Depois que terminei a licenciatura, fiquei um ano e meio sem estudar e resolvi buscar a Uenf e comecei a fazer um estágio não remunerado em laboratório”, conta a ex-catadora de caranguejo.
Ex-catadora de caranguejo passa para mestrado da Uenf, em Campos (3) (Foto: Reprodução/InterTv RJ)
Marina se matriculou no ensino médio para ajudar
a filha nos estudos e passou no vestibular
(Foto: Reprodução/InterTv RJ)
Início do mestrado na Uenf
Atualmente Marina já frequenta as aulas do mestrado e, assim como na época do estágio, precisa pegar um barco e três ônibus para ir de São Francisco de Itabapoana até a Uenf, em Campos dos Goytacazes. De ida e volta, o valor gasto por dia com passagens em seis ônibus e duas barcas chega a R$ 23,20. A ex-catadora conta que na época que fazia estágio precisou parar de trabalhar para se dedicar aos estudos e as passagens eram pagas com economias que ela tinha guardado ao longo de anos de trabalho. Após iniciar o mestrado, Marina conta com a ajuda de uma bolsa auxílio fornecida pela universidade.
“Eu demoro três horas para chegar na Uenf e três para voltar para casa, isso de segunda até sexta-feira, já que consegui uma bolsa”, conta.
Uenf em Campos dos Goytacazes (Foto: Divulgação)Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes (Foto: Divulgação)
Sonho em estudar sobre o câncer
A estudante se formou em Ciências Biológicas da Uenf/Cederj, em 2009. Entre maio de 2011 e dezembro de 2012, frequentou o estágio de aperfeiçoamento em imunologia em um laboratório da Uenf. Agora, Marina começa o mestrado em Biociências e Biotecnologia da Uenf. 
Ex-catadora de caranguejo passa para mestrado da Uenf, em Campos (4) (Foto: Reprodução/InterTv RJ)
Marina pega um barco e três ônibus para chegar
à faculdade  (Foto: Reprodução/InterTv RJ)
A ex-catadora de caranguejo diz que o pontapé inicial para os estudos na área foi a vontade de participar de pesquisas relacionadas ao câncer. No mestrado, sua pesquisa tem como tema “Avaliação da atividade antineoplásica do extrato de pereskia aculeata”.
Marina já iniciou as pesquisas com extratos de plantas que podem ser usadas contra as células do câncer.
Apesar da alegria da nova conquista acadêmica, Marina prefere mantém o foco. “Eu fiquei feliz de ser aprovada, mas o peso da responsabilidade e da dificuldade me coloca com os pés no chão. Vou deixar a alegria para depois que terminar o mestrado”, disse.
Marina dispensou cargo público
Como todo estudante que precisa abrir mão de outras atividades em nome de uma meta, Marina teve que fazer uma escolha esta semana. No mesmo dia que fez a matrícula para o curso de mestrado, teria que fazer sua apresentação para começar a trabalhar como professora, após ter sido aprovada em concurso público de Campos, realizado em 2009.
“Seria inviável ficar com as duas atividades e eu decidi abrir mão do concurso público em prol do meu mestrado. Tive que dispensar a convocação para o cargo de professora do município.Tudo sempre foi difícil na minha vida, mas sei que estou fazendo a escolha certa”, finalizo eu.
G1 fonte adilson ribeiro

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