sábado, 22 de junho de 2013

Estilistas do carnaval usam criatividade da folia na roupas das quadrilhas juninas

A quadrilha Gonzagão de Campo Grande: material das roupas é o mesmo usado nas fantasias de carnaval
A quadrilha Gonzagão de Campo Grande: material das roupas é o mesmo usado nas fantasias de carnaval Foto: Nina Lima / Extra



A apresentação atual de quadrilhas é mesmo de tirar o chapéu, o vestido de chita, o jeans remendado e até as camisas xadrez do caminho da roça. Caipira que se preze cruza a porteira do arraiá com o brilho do strass, dos cristais swarovski, dos tecidos nobres. Tudo como manda o figurino dos grupos juninos atuais, criado por designers de carnaval que entendem do babado, principalmente os de tela, usados nas saias. Um luxo só.
— Não há diferença entre roupas de carnaval e de quadrilha. Os materiais são os mesmos — observa o designer de roupas Márcio de Almeida Ramos, o Márcio Venturiny, de 38 anos, morador de Campo Grande.
Palavra de estilista, que este ano fez a vestimenta dos 18 pares da quadrilha Gonzagão de Campo Grande, além de dois da Sensação de Irajá, em seu ateliê, onde três pessoas o ajudam. Mas em época de carnaval, é ele quem ajuda os outros no ateliê de um amigo. Como este ano, quando confeccionou a fantasia das atrizes Cris Vianna, rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense, e Juliana Alves, que desfilou à frente da bateria da Unidos da Tijuca. E também a da cantora Fafá de Belém, um dos destaques na verde e branco da Leopoldina.
— Às vezes, a roupa de quadrilha sai mais cara que a do destaque de escola de samba. Elas investem nos tecidos, como a renda francesa — diz Márcio.
O designer de roupas Márcio Venturiny também produz fantasias para as escolas de samba
O designer de roupas Márcio Venturiny também produz fantasias para as escolas de samba Foto: Nina Lima / Extra
Sinhazinha investe economias para a festa do glamour no arraiá
O número de roupas produzidas para realezas cresceu ainda mais na lista de Márcio Venturiny, procurado pela Gonzagão de Campo Grande para confeccionar a vestimenta de todos os pares. Inclusive a da sinhazinha, considerada uma rainha nos arraiás.
— Paguei R$ 500 só pela costura. Fora o material. Todo o meu salário fazendo faxina é investido na roupa. Minha mãe reclama, mas ela também dança e separa parte do dinheiro que ganha como auxiliar de creche para o figurino. É o amor — justifica Taynara Kathellen, aluna do 2º ano do Ensino Médio.
O motivo de tanto investimento é nobre: este ano ela estreia na Gonzagão como sinhazinha, o posto de destaque mais cobiçado pelas meninas. E com a responsabilidade de representar Nossa Senhora Aparecida para defender o tema “Marias do Brasil”, escolhido pela quadrilha.
De crepe chantum, na parte de cima, a roupa tem laise e mangas de renda.
Tecidos caros e sapatos sob medida compõem o visual
Tecidos caros e sapatos sob medida compõem o visual Foto: Nina Lima / Extra
Muitas apresentações
Para acertar o passo das quadrilhas atuais é preciso ter fôlego para enfrentar meia hora de apresentação por arraiá. Só a Gonzagão de Campo Grande vai evoluir em 15 músicas para defender o tema “Marias do Brasil”. nos concursos juninos. Até um samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, adaptado para o ritmo do mês, está no repertório. E será a canção tema de Maria, a louca, também homenageada na quadrilha.
— A quadrilha de roça (mais tradicional) acompanhou a evolução da quadrilha de salão (que usa roupas da côrte), com o brilho. Gostei da mudança — diz Cristiana Santoro, vice-presidente da Gonzagão.
Na quadrilha Atrevida de Guaratiba, as pedras dão um brilho no xadrez e nas flores
Na quadrilha Atrevida de Guaratiba, as pedras dão um brilho no xadrez e nas flores Foto: Guilherme Pinto / Extra
Pedras dão um brilho no xadrez e nas flores
Os passos dos 21 pares da quadrilha Atrevida de Guaratiba são marcados por um especialista em bailado. É o presidente do grupo, Nil Black, que atua como coreógrafo nas escolas de samba Favo de Acari e Mocidade Unidade da Cidade de Deus.
— Mas separo o samba do ritmo de quadrilha — avisa Nil, que procura manter as características tradicionais no grupo.
Não que ele seja contra o brilho. Nil usa strass nas roupas. Mas sempre com moderação.
— Vi a evolução das quadrilhas, com o uso excessivo do brilho, por exemplo. Não sou contra. Todas as quadrilhas apresentam belos trabalhos. Mas tem gente que pergunta se está num arraiá ou no carnaval — explica Nil.
Quem ainda guarda a imagem do cavalheiro usando lenço no pescoço, preso com caixa de fósforos, e da dama sorrindo com pintas no rosto, feitas com lápis de olho, surpreende-se com as apresentações atuais.
Em meia hora de dança, os grupos defendem o tema escolhido a cada ano, logo após o carnaval. E com alegorias, adereços e até destaques luxuosos, como a noiva, a viúva, a sinhazinha e a sinhá-moça.
— Mas a Atrevida aposta mais na criatividade, procurando usar o xadrez, muitas flores e cores.


Sem comentários:

Enviar um comentário