quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mulheres dão voz a Tom

Leila Pinheiro, Leny Andrade e Tulipa Ruiz cantam na homenagem a Tom Jobim
Leila Pinheiro, Leny Andrade e Tulipa Ruiz cantam na homenagem a Tom Jobim Foto: Fabio Rossi / O Globo


RIO - O que se viu no palco do Teatro Municipal durante a cerimônia de entrega do 24º Prêmio da Música Brasileira, realizada na noite da última quarta-feira, foi uma grande homenagem feminina às canções de Tom Jobim.
— O Tom ia adorar ver isso aqui, afinal a obra dele não deixa de ser uma grande homenagem às mulheres. Ele se inspirava nelas — disse o cantor João Bosco, grande homenageado do Prêmio no ano passado e vencedor de dois prêmios na categoria MPB deste ano: melhor cantor e álbum, por "40 anos depois".
E dentre as muitas mulheres que desfilaram em frente às retinas de Tom, Bosco teve a chance de flertar com "Dindi" — apelido de Silvinha Telles, mulher de Aloysio de Oliveira, parceiro de Tom na canção. Além disso, ele e Ney Matogrosso, que fechou a noite substituindo Gal Costa, foram os únicos homens a subirem ao palco sozinhos entre as 11 atrações musicais da noite — o português Antônio Zambujo dividiu o palco e a canção "Sabiá" com a sua conterrânea Carminho.
— Me sinto honrado, ainda mais tocando "Dindi", uma canção que amo — disse Bosco.
Com apresentação das cantoras Zélia Duncan e Adriana Calcanhotto, o Prêmio da Música Brasileira distribuiu 35 prêmios entre 106 nomes indicados, após avaliar mais de mil álbuns produzidos nos mais diversos gêneros, da MPB à música clássica, passando por pop, rock, samba, canção popular, eletrônico, regional, língua estrangeira e projeto especial. Entre os premiados da noite, Cauby Peixoto brilhou na categoria canção popular, vencendo a disputa de melhor cantor e álbum, pelo disco "Minha serenata". Também com dois prêmios, foram consagrados Caetano Veloso (melhor cantor na categoria pop/rock/reggae/ hip hop/funk, e projeto visual pelo disco "Abraçaço"), Moraes Moreira (melhor cantor e álbum, "A revolta dos ritmos", na categoria regional), Mario Adnet (projeto especial e arranjador pelo disco "Vinicius & Os Maestros"), Zélia Duncan (melhor cantora e álbum, por "Tudo esclarecido", na categoria pop/rock/reggae/ hip hop/funk), além de Maria Bethânia (melhor cantora na categoria MPB e vencedora de melhor canção por "Carta de amor", escrita em parceria com de Paulo Cesar Pinheiro).
O idealizador e diretor do Prêmio da Música Brasileira, José Maurício Machline abriu a noite homenageando quatro importantes artistas falecidos recentemente: o compositor e instrumentista mineiro Marku Ribas, o ex-vocalista do grupo Charlie Brown Jr., Chorão, o cientista e compositor de samba Paulo Vanzolini e o cantor carioca Emílio Santiago, consagrado em seis edições passadas do prêmio.
Após a abertura, veio a série de homenagens musicais ao maestro, que teve como abre-alas a reunião dos pianistas João Carlos Martins, Wagner Tiso, Gilson Peranzzetta, Cristóvão Bastos, João Carlos Coutinho e Leandro Braga, que executaram a doze mãos uma belíssima versão instrumental para "Eu sei que vou te amar". Na sequência, coube a Nana Caymmi abrir a cena para as musas e emprestar densidade à dolorosa "Por causa de você". Em seguida, a cantora Céu - trajando um dos figurinos mais belos da noite - mesclou vigor e leveza em sua interpretação para "Insensatez". Já a canção-marco da bossa nova, "Chega de saudade" ganhou vocais entrecortados de Maria Gadú, que exagerou em maneirismos que sobrepujaram as sutilezas harmônicas da canção. "Derradeira primavera" teve no límpido e potente registro de Mônica Salmaso um dos grandes momentos da noite — a cantora venceu o prêmio de melhor DVD, pelo show "Alma lírica brasileira", dirigido por Walter Carvalho. Num dos momentos mais descontraídos da festa, com três cantoras em cena, Leny Andrade arrasou numa gingada e soltíssima versão para "Brigas nunca mais", Leila Pinheiro desafiou "Desafinado" e saiu-se muito bem, enquanto Tulipa Ruiz balançou nas ondas do grande tributo de Tom às formas femininas, "Garota de Ipanema".
Por mais que a homenagem a Tom não tenha sido definida por nenhuma efeméride e tenha prescindido de uma justificativa específica dos organizadores do prêmio, além da óbvia pertinência em reverenciar a obra singular de um dos maiores cancionista do país, o tributo ao compositor neste 2013 veio a calhar. Afinal, se 2014 vai marcar os 50 anos da estreia de Tom como cantor, no disco "Caymmi visita Tom" (1964), 2013 marca os 60 anos da estreia profissional de Tom como compositor — em 1953, o samba-canção "Incerteza", feito em parceria com Newton Mendonça, foi gravado por Mauricy Moura. E foi justamente o Tom compositor — mais que o maestro ou cantor — que ganhou evidencia do início ao fim da noite, que culminou com uma magistral performance de Ney Matogrosso para "Se todos fossem iguais a você".
Outro bendito fruto entre as mulheres, Ney brilhou na canção que não é apenas uma das mais famosas e belas criações de Tom e Vinicius, mas uma das composições que marcou, em 1956, o início da parceria entre ambos. Afinal, naquele ano, Vinicius procurava um compositor para musicar a ópera "Orfeu da Conceição". Não só achou um jovem e competentíssimo músico, mas um compositor de mão cheia, um amigo para toda a vida e seu mais importante parceiro musical. Se o poetinha foi homenageado na primeira edição do Prêmio, o tributo a Tom neste ano completa com justiça e êxito um ciclo.
fonte jornal extra

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