domingo, 21 de julho de 2013

Alex, do Coritiba: ‘Devia ter ficado mais tempo no Flamengo’

Alex é a sensação do Coritiba, único time invicto no Campeonato Brasileiro
Alex é a sensação do Coritiba, único time invicto no Campeonato Brasileiro Foto: Reprodução da internet


Alex tinha 17 anos quando um chute nas costas tirou do lugar o disco L5 da sua coluna lombar. O zagueiro carniceiro do rival Atlético-PR já foi esquecido, mas, até hoje, Alex se lembra dos exercícios contra a dor prescritos no Coritiba. Curado, ainda recorre a eles como prevenção. Talvez por isso, Alex faça, aos 35 anos, tanto sucesso no Coxa, único time invicto no Brasileiro. Com 976 jogos, 402 gols e 344 assistências na carreira, o apoiador tem lugar na galeria de veteranos que reluzem na competição — Ronaldinho (33), Forlan (34), Seedorf (37), Zé Roberto (39), Dida (39) e Rogério Ceni (40) são alguns deles. O Coritiba enfrenta o Santos, neste domingo, às 16h, na Vila Belmiro.

Qual é o segredo dos trintões?
Não tem segredo. Treino, boa alimentação e descanso. Ainda conto com a sorte porque só tive duas lesões graves na carreira: uma na coluna, aos 17 anos, e uma de púbis, entre 2007 e 2008. Nessas duas lesões, os fisioterapeutas me passaram vários exercícios para me proteger. Isso me ajuda.
E as lesões musculares?
Eu já estava com 32 anos quando tive minha primeira lesão muscular. O que mais me favorece é que meu jogo é parecido com o do início da carreira. Aos 32 anos, o jogador começa a perder força e velocidade. Não perdi nada disso. Na verdade, nunca tive força nem velocidade.
Onde encontra motivação para continuar jogando?
Tenho uma alegria juvenil por poder jogar no clube pelo qual torci na arquibancada. Jogar no meu time de infância me dá satisfação. Aquela magia infantil está inserida em mim. Pena que dei azar, porque, como torcedor, peguei meu time sem ganhar praticamente nada. Hoje, tenho um filho (Felipe) de três anos que adora futebol. Antes dele, eu tinha duas meninas. É diferente. O menino vai comigo para os treinos e jogos. O encanto dele pelo futebol é absurdo. Isso me motiva muito também.
Nos tempos de torcedor, quem era seu ídolo?
Meu ídolo no futebol era, no contexto geral, o Zico. Mas eu ia ao estádio para ver o Tostão (Luís Antônio Fernandes, o Tostão II), camisa 10 que jogou no Coritiba de 86 a 92. O time de 89 é minha referência como torcedor. E ele era o comandante.
Considera-se injustiçado na seleção brasileira?
Se eu tivesse ido à Copa de 2002, teria mais chance também em 2006 e 2010. O treinador me conhecia, mas não me levou. De 98, com Vanderlei Luxemburgo, até 2002, estive em mais ou menos 80% dos jogos da seleção. Fui ao Pré-Olímpico, à Olimpíada, à Copa América... Estava sempre no bolo.
Por que Felipão não te levou em 2002?
Não sei. Só ele é que sabe.
Ficou magoado?
Na época, fiquei bastante chateado. Hoje, sinceramente, não. Já se passaram 11 anos. Nem penso nisso. Não tenho sentimento nenhum em relação a isso.
Torceu contra o Brasil na Copa do Japão e Coreia?
A Copa me favoreceu. Não vi, porque era de madrugada. E minha esposa, grávida, acabou perdendo o bebê. Pude consolar minha mulher e me consolar. O problema dela era maior do que o meu.
Por que, após oito anos na Turquia, no Fenerbahçe, você voltou?
Discuti com o treinador por uma série de fatores. Ele dizia que eu tinha uma história bonita no clube, e não poderia haver duas cabeças pensantes ali. Não aceitava ter seu trabalho questionado. Quando o treinador disse que eu não fazia mais parte do grupo, o presidente me passou que eu poderia ficar, mas treinando à parte. Rescindimos.
Está satisfeito com o futebol brasileiro?
O futebol brasileiro perdeu muito ao longo dos anos. Mas nada me causa decepção. Alguns técnicos tentam copiar o esquema europeu, com homens jogando como pontas. Não temos jogadores brasileiros para essa função, e muitas vezes o treinador forja, insiste...
Poderia dar um exemplo?
O que o Hulk fez na Copa das Confederações a gente conta nos dedos. Ajudou muito o Daniel Alves pelo lado direita... Ele foi questionado por ter feito o que o Felipão pediu. Acho que deu certo, mas a formação dele é europeia, né? Não podemos considerá-lo brasileiro.
Gostou do Brasil na Copa das Confederações?
Gostei. Não tínhamos um time até então e saímos com um embrião.
Faltou alguém no time? Como, por exemplo, você... Ronaldinho Gaúcho..
Não gosto muito de falar isso... Minha última convocação foi em 2006. Já faz sete anos. Não crio essa expectativa. Em relação ao Ronaldinho, acho normal o questionamento, pelo que vivia no Atlético e, também, por sua história na seleção. Mas também acho normal a escolha do treinador, que tem suas convicções.
O Coritiba é cavalo paraguaio ou realmente é o melhor?
Meu time não tem a condição financeira dos outros. Ao longo de sua história, conquistou muito pouco. Cresci aqui e sei como funciona. A gente tem feito bons jogos, mas não consigo dizer como vai estar o Coritiba daqui a dois ou três meses. As semanas passando é que vão dizer... Estamos liderando, mas temos mil coisas para melhorar.
O que, por exemplo?
O Coitiba não ganhou fora de casa ainda. Em nenhuma vitória, foi muito superior ao adversário. Em todos os jogos, a gente vem tendo dificuldade. Times equilibrados costumam ganhar seus jogos de forma mais tranquila. Para mim, essa liderança não significa nada. O Coritiba não é o melhor time do Campeonato. Foram sete boas rodadas. Isso não nos leva a lugar nenhum.
Qual é o melhor time?
É o Atlético-MG.
Vai se aposentar quando?
Não há nada decidido. Não estou programando. Mas minha ideia é parar no Coritiba... Vai ser no Coritiba.
Quem foi o seu melhor treinador?
Vanderlei Luxemburgo. No Cruzeiro, no Palmeiras e na seleção brasileira.
Que avaliação faz da passagem pelo Flamengo, em 2000?
Nenhuma. Foram só 11 jogos. O Flamengo atravessava um momento administrativo complicado. E meu momento individual era péssimo. Vim dos Jogos Olímpicos muito mal, psicologicamente. Juntou esse meu lado ruim com o do clube. Mas a marca Flamengo me impressionou. Mesmo com as coisas não acontecendo, o Flamengo representou muito para mim. Meu momento era péssimo...
Arrepende-se de ter jogado no Flamengo?
Eu me arrependo de não ter ficado mais tempo para fazer uma avaliação melhor. Eu tinha mais seis meses de contrato e poderia ter ficado para jogar o Carioca. Mas o momento era tão conturbado que decidimos rescindir. Agradeço por ter jogado no Flamengo, por ter visto de perto o que esse clube representa.
O Flamengo te deve algo?
Não me deve nada.
O fracasso na Olimpíada de Sydney foi sua maior decepção na carreira?
Foi, inegavelmente. Nós nos preparamos dois, três anos para os Jogos Olímpicos e as coisas não aconteceram. Fiquei muito abalado. Foi difícil absorver.


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