Estação de Ponte de Itabapoana, há muito sem movimento
Por Avelino Ferreira
O maior líder do chaguismo (Governo
Chagas Freitas – 1979/1982) no Norte Fluminense (dividido depois em Norte e
Noroeste) foi o empresário italvense Ecil Batista, que costumava dizer que a
mídia da capital abria manchete sobre um cano d’água arrebentado em Copacabana,
mas não dava uma linha sobre a queda de uma ponte ligando distritos e pequenos
municípios do interior. Era e é uma verdade.
Lembramos este fato no momento em que
a comunidade do distrito de Ponte de Itabapoana, do município de Mimoso do Sul
(ES) está indignada com o que acusam de descaso do Judiciário, que retirou o
cartório local, instalando-o no distrito de São Pedro de Itabapoana, a cerca de
75 Km de distância.
O fato merece destaque porque o
município de Apiacá situa-se a uma distância de apenas 10 Km do distrito. Tanto
que muitos moradores querem que o distrito pertença àquele município,
desmembrando-se de Mimoso, segundo o site Mimoso In Foco, de 22 de agosto deste
ano.
O cartório de registro civil de
Ponte, que teve vários tabeliães reconhecidos como o Sr. Freitas, Joacy Moreira
de Faria, Cleber Tardin e, nos últimos 30 anos, Marcelo Antônio Alvim, e que
registrou pessoas que se tornaram personalidades nacionais e internacionais,
como Rossini Pinto, cantor, compositor e produtor musical e uns dos mais
importantes nomes da Jovem Guarda, que ajudou a consagrar artistas do quilate
de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
Também registrou o jogador de
futebol, Ézio, conhecido como Super Ézio, pelos seus potentes chutes a gol.
Ézio foi revelado pelo Bangu e atuou em vários clubes até chegar às
Laranjeiras, jogando no Fluminense entre 1991 e 1995, marcando 118 gols em 236
jogos, além de ajudar o tricolor carioca a conquistar a Taça Guanabara de 1991
e 1993 e o Campeonato Carioca de 1995.
Outro nome a destacar registrado no
cartório de Ponte de Itabapoana é o de Manoel Carlos Pessanha, proprietário das
lojas Óticas do Povo e o primeiro empresário a utilizar três negros como
“garotos propaganda”, os consagrados artistas Grande Otelo, Jair Rodrigues e
Cosme dos Santos, que popularizaram o bordão “Óticas do Povo, morô?”.
Depois de ter vários Armazéns de Café
em 1950, coletoria Federal 1960 tendo como responsável o Sr. Jacinto Menegardo, Coletoria Estadual em 1968, tendo à frente o
Sr. Geraldo de Oliveira, Estação
Ferroviária em 1980, tendo como Agente da Estação o Sr. Antônio Eval Gomes,
Posto Fiscal e Posto Policial, atuando na divisa com Estado do Rio de Janeiro,
Ponte de Itabapoana perde agora o seu cartório, como último ato para o
encerramento de toda uma história.
História que, ao que parece, não
sensibiliza as autoridades. É o momento líquido que vivemos, no qual tudo flui
com muita velocidade, tudo é fugaz, efêmero, pois só tem importância o que é
útil, no sentido comercial e empresarial. Uma população de apenas 1.600
habitantes não parece importar, mesmo que ela seja centenária. Todavia, o
cartório vai ficar localizado no distrito de São Pedro de Itabapoana que tem
apenas 1.300 moradores. Parece contraditório, um contrassenso.
O distrito de Ponte de Itabapoana, está
localizado na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, tendo, do lado sul da
ponte, o distrito de Santo Eduardo, do município de Campos dos Goytacazes, e,
como foi dito acima, fica a uma distância de 10 Km de Apiacá e a 22 Km de Bom
Jesus do Norte. O cartório foi transferido um distrito que fica a 75 km de
distância.
Ponte sobre o rio Itabapoana, que originou o nome do distrito
O distrito de Santo Eduardo em Campos
dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, que fica 2km de Ponte de Itabapoana,
também sofreu a perda de sua agência de Correios, que funcionava como posto de
recebimento e pagamento do Banco do Brasil, agência esta que funcionava há décadas,
servindo à comunidade. E sua população, segundo dados do IBGE, é de 4.820
pessoas (dados de 2010).
Constata-se por estes e outros fatos,
que o interior está ficando vazio e perdendo a sua história. E um povo que não
cuida e não preserva sua história condena o futuro da nação, pois perde sua
identidade, suas referências, necessárias para alicerçar o amanhã.
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