domingo, 2 de julho de 2017

"No crime, não há espaço para a família margarina", diz Bibi Perigosa

Escritora que inspirou personagem da Globo conta como foi substituir ex-marido traficante na Rocinha

Fabiana Escobar
Fabiana Escobar
Foto: Divulgação
A maior favela do país, Rocinha, no Rio de Janeiro, parou para ver a homenagem que Fabiana Escobar, 36 anos, prestava naquela manhã de 2006 ao marido. Ela contratou um helicóptero para jogar pétalas e mais pétalas de rosas sobre o morro. Tudo para mostrar o amor que sentia.
Isso foi um entre tantos atos de amor, como chama, pelo traficante Saulo Silva, o Barão do Pó, com quem foi casada de 1996 a 2010, quando o peso das infidelidades dele finalmente se tornou insuportável.
Entre outros atos, está o de assumir as funções do esposo no morro. Foi aí que veio o apelido de Bibi Perigosa. “Tinha que falar sério com eles (traficantes). Entrei no lugar dele. Aí começou o apelido.”
Desde a separação, muita coisa mudou. Lançou livro, “Perigosa”, montou um grupo de produção audiovisual na Rocinha, o Rocywood, e vive disso. E hoje é a inspiração da personagem Bibi, interpretada por Juliana Paes, na novela da Rede Globo “A Força do Querer”, que impulsionou ainda mais a busca de mulheres por seus conselhos. “Falo para não serem trouxas.”
Não entra em detalhes sobre o que exatamente fazia pelo marido. Confirma apenas que “fazia de tudo” e arrepende-se. Inclusive da homenagem com pétalas de rosas. “Devia ter tacado é pedra”, diz a Perigosa.
O que acha da novela?
Sou a primeira a sentar para assistir. A Juliana está perfeita. Quem me conhece me liga e fala: “Cara, não consigo olhar a novela e enxergar a Juliana. Ela está muito igual”. No primeiro dia, foi quando ela brilhou e saiu andando descalça com o sapato na mão. Só que eu teria quebrado o carro todo.
Vocês se conheceram?
A personagem Bibi da novela A Força do Querer
A personagem Bibi da novela A Força do Querer
Foto: MixTura
Conversamos por Skype (programa para comunicação pela internet). Mas fizeram horas e horas de vídeo meu conversando com a Glória Perez (autora da novela). A Juliana deve ter estudado meu jeito assim.
As mulheres te procuram?
Desde quando escrevia um blog, já tinha um pouco de mulheres que vinha falar comigo. Mas depois da novela, muita mulher, mas muita mulher mesmo, me manda e-mail, fala por chat, dizendo que estava passando por aquilo também.
O que você diz a elas?
Falo para não entrar nessa síndrome de Romeu e Julieta. Eles têm lábia, são românticos, mulher carente cai. Falo para não ser trouxa. No mundo do crime, não existe espaço para família margarina, muito menos para fidelidade. No final, ele troca de mulher ou é preso ou morre. O dinheiro também não vale a pena.
Como conheceu o Saulo?
Ainda crianças, na escola. Depois nos encontramos adolescentes, começamos a ficar e casamos. Temos dois filhos, um de 20 e outra com 18. Tenho dois netos. Ele continua preso.
E como ele virou o Barão do Pó e você, Baronesa?
Eu estava no final do curso de Serviço Social, estudava numa pública. Ele estudava Matemática numa particular e trabalhava nos Correios. Tinha muito benefício, mas o salário não era alto. Então ele falou “posso fazer uma correria aqui, ali...”. Ele foi preso por causa de uma escuta telefônica com um cara mega procurado, o Bem-Te-Vi. Ele era um fornecedor pequeno, mas na prisão fez os contatos e virou o Barão do Pó depois da primeira fuga. Ele foi preso em 2005, mas fugiu meses depois. Ficamos dois anos na Rocinha, um em Maceió e dois em Bangu (novo Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio).
Foi quando você o deixou?
Chegou um momento que eu não me via mais como esposa dele. Me sentia usada. Tive a luz de parar.
Você nunca foi presa?
Sofri processo por associação ao tráfico, mas presa eu não fui. Nunca me pegaram. Implicavam comigo porque não conseguiam pegá-lo. Botavam minha foto no jornal, e ele (marido) mandava comprar tudo nas redondezas. Depois que o prenderam, perderam o interesse.
Conta a história do helicóptero.
Foi no morro (Rocinha). Contratei helicóptero para jogar flores no Dia dos Namorados. Nessa época eu já estava com dinheiro. Foi entre a primeira e segunda prisão dele (que estava foragido). Comprei sacos e sacos de rosas, fiz uma declaração. Combinei com os caras para ninguém dar tiro no helicóptero. E tinha que ser de dia. Foi muito maneiro. O pessoal todo do morro foi para as lajes. Mas depois que descobri que ele me traía até com garota de programa de lá, devia ter tacado é pedra, não rosas.
O que já fez por ele?
Já ouviu “ossos do ofício”? Fiz tudo o que tinha.
Tipo o quê, Bibi?
Tudo.

Fonte; Gazata Online

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