domingo, 9 de junho de 2013

AMARRAR CACHORRO COM LINGUIÇA

 

AMARRAR CACHORRO COM LINGUICAO poeta e novelista Giovanni Boccaccio (1313-1373), nascido em Paris, França, e falecido em Florença, Itália, produziu uma obra literária que lhe garantiu lugar destacado entre os grandes escritores italianos do seu tempo. Ao falar de si mesmo, dizia ele: “eu me lembro que antes de ter atingido a idade de sete anos, quando não tinha conhecimento de nenhuma ficção poética e que não tinha tido ainda nenhum mestre – apenas deveria possuir os primeiros elementos das letras -, uma secreta impulsão de minha natureza me inspirava o desejo de imaginar alguma fábula”.
E foi o que ele fez, dedicando-se à literatura e terminando entre 1336 e 1338 o seu primeiro livro bem sucedido, o Filostrato, cujo tema é um autêntico relato de paixão sensual e embriagadora. Porém, o mais importante de todos os trabalhos de Boccaccio foi Decameron (dez dias, em grego), escrito entre os anos de 1348 e 1353, reunindo uma série de narrativas satíricas sobre os costumes florentinos e cujo enredo revela a história de dez jovens refugiados durante dez dias em determinado local, contando histórias de amor.
Em uma delas, lê-se que “O sol ainda estava bem alto, porque a conversação tinha sido breve. Por isso, logo que Dioneu e os outros rapazes se puseram a jogar gamão, Elisa chamou de parte as donzelas e lhes disse: Desde que chegamos aqui, eu tenho desejado levá-las a um lugar muito perto de onde estamos e aonde até agora não creio que nenhuma de nós tenha ido: chama-se Vale das mulheres. Até hoje, quando o sol ainda vai alto, nunca tinha achado tempo de levá-las até lá. Assim, se quiserem vir comigo, não tenho a menor dúvida de que, ao chegar lá, todas ficarão contentíssimas de ter ido”.
E continua adiante, em outro trecho do mesmo conto: “Dessas encostas, as voltadas para o meio-dia estavam cobertas de vinhedos, olivais, amendoeiras, cerejeiras, figueiras e muitas outras espécies de árvores frutíferas carregadas, sem um palmo de chão vazio. As encostas voltadas para a tramontana tinham matas de carvalhais, de freixos e de outras árvores muito verdejantes aprumadíssimas. A planície vizinha, que não tinha entradas além daquela por onde passaram as donzelas, estava cheia de abetos, de ciprestes, de louros e de alguns pinheiros tão bem distribuídos e arrumados quanto poderia dispor o melhor artífice. Ali, pouco ou nada de sol, mesmo a pino, podia chegar ao chão, que era uma relva miudinha, cheia de flores vermelhas e outras mais”.
Nas cem novelas contidas em Decameron, o autor expõe sua idéia de que a natureza transmite aos homens as regras fundamentais de sua conduta social, descrevendo, ao mesmo tempo, uma terra formada por gargantões onde as montanhas, todas elas de queijo de diversos tipos, faziam água na boca de quem as visse. Neste lugar extremamente maravilhoso ao qual ele dava o nome de Bengodi, é que se via o costume extraordinário de os cachorros serem amarrados com lingüiça.
Contudo, existem registros de que bem antes de Boccaccio a literatura de alguns países ocidentais já falava de uma certa terra de Cucanha, ou então reino de Cucanha, onde os cães também eram amarrados com lingüiça, tendo daí se originado a versão grotesca de que um desses animais, não resistindo ao aroma flutuante no ar, acabou cedendo aos seus impulsos de gula e por isso devorou sem hesitação o delicioso arremedo de corrente que o prendia a algum lugar.
O rei dos cães não gostou daquela insubordinação inaceitável, quis saber qual dos seus súditos havia ferido a lei de forma tão acintosa, e para isso decretou que dali em diante todos os cachorros seriam cheirados uns pelos outros em certo orifício corporal, até que se descobrisse o misterioso comedor da lingüiça. E é isso que continua sendo feito por eles até os dias de hoje.
Essa imagem de um mundo pacífico e respeitador, onde os cachorros podiam ser amarrados com lingüiça, veio sendo modificada ao longo do tempo, e é usada atualmente quando se deseja insinuar que alguém não está tomando os cuidados necessários para realizar alguma coisa. Por isso se diz que o que está sendo feito é o mesmo que “amarrar cachorro com lingüiça”.
EM ITALVA TÉM MUITA GENTE AMARRANDO CACHORRO COM LINGUIÇA.

Sem comentários:

Enviar um comentário