domingo, 11 de dezembro de 2016

Inaugurado por Cabral há sete anos, hotel cidadão só hospeda ratos


Com o braço dolorido após transportar dezenas de caixas de frutas durante toda a manhã, o carregador Noel Teles de Souza, de 62 anos, sente o corpo pedir repouso. Do mesmo cansaço partilha o caminhoneiro Marcelo de Oliveira, de 45 anos. Enquanto procura uma posição confortável dentro da cabine do caminhão, estacionado na Central de Abastecimento do estado (Ceasa) de Irajá, olha com lástima para um prédio abandonado a poucos metros. Naquela construção, deveria funcionar o Hotel Cidadão, inaugurado pelo então governador Sérgio Cabral, em 2009, para acolher hóspedes a R$ 1. O estabelecimento atenderia perfeitamente às necessidades de Noel e Marcelo. Mas nunca abriu as portas.

— Isso aí virou uma cabeça de porco. Só serve para hospedar usuários de drogas e baderneiros — desabafa Noel.

O forte odor de urina e fezes causa repulsa a quem se atreve a entrar no edifício. Restos de roupas se misturam a seringas, cacos de vidro e lixo de todo tipo, espalhados pelo chão do primeiro piso. De dia, há ratos passeando pelos três andares do prédio, onde deveriam funcionar 226 quartos masculinos e 26 femininos.


No discurso de inauguração, em 15 de março de 2009, Cabral definiu o Hotel Cidadão como um local para dar “dignidade para o motorista, para o trabalhador da Ceasa que queira descansar”. A cerimônia se deu no mesmo dia em que foi aberto o restaurante popular de Irajá, que deixou de servir refeições há uma semana por falta de repasses do governo. As duas construções, juntas, custaram R$ 7,6 milhões aos cofres do Rio.

— Para os caminhoneiros que vêm de outros estados e municípios abastecer a Ceasa, esse hotel seria um alívio. A maioria acaba dormindo na cabine do caminhão. O cansaço é um dos maiores inimigos dos caminhoneiros. Para os transportadores que vêm de outros estados ou municípios, esse hotel cairia como uma luva. A maioria dorme dentro da própria cabine, ficando à mercê de perigo. Eu trabalho aqui há mais de dez anos e confesso que nem sabia que aquilo ali seria um hotel. Nunca abrigou um único hóspede. É mais um descaso do governo. E agora, com essa crise, não há esperança nenhuma de que a coisa melhore — desabafa Marcelo.

Quando inaugurou, muita gente achou que poderia tirar um cochilo ali de vez em quando. Mas nunca funcionou. Trabalho aqui desde a década de 1970 e não conheço ninguém que tenha dormido ali. O lugar virou uma cabeça de porco. Virou morada de usuários de drogas. Às vezes alguns agentes vêm tirá-los daí, mas eles voltam à noite, não tem jeito. É uma pena. Muito dinheiro jogado fora.

O abandono do local acabou trazendo dor de cabeça aos comerciantes. De acordo a gerência de mercado, a movimentação de usuário de drogas no espaço é motivo de reclamação por parte dos lojistas, que temem pela falta de segurança.
Responsável pelo programa que funcionaria no prédio, a Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos foi questionada pelo extra, mas respondeu apenas que o prédio pertence à Ceasa.

Destino incerto

A Ceasa, por sua vez, confirma que o prédio não chegou a funcionar como Hotel Cidadão e afirma que “a Ceasa, em nenhum momento, foi responsável por administrar o imóvel”. Em nota, a central diz ainda que “a equipe de engenharia da empresa está fazendo levantamento para avaliar possibilidades de nova utilização do espaço”. Em relação à segurança e ao fato de usuários de drogas usufruírem do local, a Ceasa informou que faz rondas diárias para evitar a ocupação irregular do prédio.

Fonte Extra


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