quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Citado em delações da Lava Jato, Eunício Oliveira é eleito presidente do Senado


Vitória obtida com o apoio de 61 parlamentares mantém o PMDB no comando da Casa


Citado em três delações da Operação Lava Jato, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), foi eleito nesta quarta-feira (1º) presidente da Casa pelos próximos dois anos. Eunício teve 61 votos ante 10 de José Medeiros (PSD-RN), seu único oponente. Marcada para ás 16h, a sessão começou com 1h35 de atraso, às 17h35.
Eleito, o presidente do Senado também comanda o Congresso Nacional. Com a ausência de vice-presidente, Eunício será o segundo na linha sucessória da Presidência.
Apesar de haver votação, a presidência do Senado é do indicado pelo partido com a maior bancada (atualmente o PMDB). Os senadores, portanto, apenas ratificam a indicação do maior partido. Em função da regra, o partido de maior capilaridade no País está no comando da casa praticamente desde a redemocratização, em 1985. Nesse período, além do PMDB, ocuparam a presidência o PFL, com Antônio Carlos Magalhães, entre 1997 e 2001, e o PT com Tião Viana (AC) por 45 dias, quando Renan Calheiros se licenciou, em 2007.
Aos 64 anos e senador de primeiro mandato após dois mandatos como deputado e dois anos como ministro das Comunicações do governo Lula, Eunício foi citado por três delatores da Lava Jato: o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-diretor da Hypermarcas Nelson Melo, e o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht,Cláudio Melo Filho. Segundo a única das 77 delações da Odebrecht que vazou até agora, Eunício teria recebido R$ 2,1 milhões em recursos para facilitar a aprovação de uma medida provisória de interesse da empreiteira. Na planilha do 'departamento de propina' da Odebrecht, Eunício era identificado como ÍNDIO, segundo Melo Filho.
Já Delcídio disse que Eunício teria cobrado propina de laboratórios e seguradoras em troca da nomeação de diretores da ANS (Agência Nacional de Saúde) e da Anvisa. Em sua delação, Nelso Melo disse ter repassado R$ 5 milhões ao peemedebista por meio de contratos fictícios.
Eunício rechaça todas as acusações e lembra que apesar de ser citado por delatores, aos quais desqualifica, não é investigado no âmbito da Lava Jato.
Sem a possibilidade de Renan Calheiros (PMDB-AL) se reeleger (tanto pelas investigações da Lava Jato quanto pela nova regra que veda a reeleição no meio da legislatura) e com Romero Jucá também investigado pela Lava Jato, Eunício foi se tornando o nome preferido do partido. Nas últimas semanas, o senador vinha costurando apoio de partidos da base aliada e da oposição, com a promessa de distribuição de cargos respeitando o tamanho das bancadas.
Eunício praticamente trocou de cargo com Renan Calheiros, que foi escolhido nesta semana por aclamação líder do partido para os próximos dois anos.
Empresário
De origem humilde, o filho de lavrador do Ceará se tornou agropecuarista e empresário, com a segunda maior fortuna declarada no Senado, R$ 99 milhões em 2014, atrás apenas de Tasso Jereissati (PSDB-CE), com R$ 380 milhões. 
Várias de suas empresas têm ou tiveram contratos com governos, como a Confederal Vigilância e Transporte de Valores,  que recebeu pelo menos, R$ 55 milhões do governo do DF entre 2006 e 2010, e a Manchester Serviços Ltda., que obteve contratos com a Petrobras no valor de quase R$ 1 bilhão entre 2007 e 2011, período em que Eunício foi um dos sócios.
Atuação parlamentar
No Senado, Eunício tem bom trânsito entre os senadores além de ser defensor da agenda de reformas do presidente Michel Temer. Ter o comando da casa, é portanto, crucial para o futuro do governo Temer que precisa aprovar neste ano as difíceis reformas da Previdência e trabalhista.
O peemedebista tem dito que, além da pauta de Temer, vai defender uma agenda de desburocratização do País e que ajude a criar um ambiente propício para os negócios. Para ele, esse debate não pode ser exclusivo do Executivo. Diferentemente do antecessor, que se envolveu em uma série de conflitos com o Judiciário, o peemedebista tem pregado o diálogo entre os Poderes e disse que pretende se reunir em breve com a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia.
Antes se ser eleito, Eunício afirmou não ter "nenhuma preocupação" com a homologação da delação dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. Para Eunício, não há "absolutamente nenhum" constrangimento com a atual situação por que passa.
— [Não tenho] nenhuma [preocupação], sei o que fiz e sei o que não fiz, tenho absoluta convicção e quem acompanha o meu trabalho sabe o que fiz nesses 20 anos.
R7

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